A noite desta quinta-feira (14) simbolizou a conclusão de um ciclo que reconduziu dois moradores da
Restinga,
na Zona Sul, ao mundo da educação. Depois de três anos estudando no
curso de Técnico em Lazer Integrado ao Ensino Médio no campus Restinga
do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Lisandra Soares da
Silva, 43 anos, e Peterson Willian Silva de Oliveira, 21 anos, se
formaram. A história poderia ser apenas mais uma entre os alunos da
turma que colou grau no auditório do IFRS, não fossem Lisandra e
Peterson mãe e filho que estudaram juntos. Sem terem concluído o Ensino
Médio, acharam na instituição federal a chance de concluir esta etapa e
ainda adquirir uma formação técnica. O Diário Gaúcho
mostrou a história em maio do ano passado, em uma reportagem especial para o Dia das Mães.
Agora,
formados, Lisandra e Peterson contam o que a formação vai representar
na vida deles. Para a mãe, o curso foi a oportunidade de proporcionar ao
filho uma nova chance após as dificuldades que ele enfrentou nas
escolas por onde passou antes do IFRS.
–
O Peterson reprovou no Ensino Médio em duas escolas. Não ia à aula,
queria começar a trabalhar para ajudar em casa. Mas achei que era mais
importante ele estudar. Por isso, quando vi o edital do curso, convidei
ele para nos inscrevermos – recorda Lisandra.
Mãe e filho relatam a experiência de serem colegas em sala de aula:
Conforme Peterson, o interesse pela escola era algo que lhe faltava.
Isso porque os problemas pelos colégios por onde passou o
desestimulavam.
Entretanto, a entrada no IFRS alterou a visão do jovem no que diz respeito à educação.
–
Aqui, os professores nos acolhem, nos estimulam. E fazem isso porque
são valorizados. Nas escolas estaduais e municipais, vemos os
professores sendo desvalorizados e, por vezes, infelizes. Se todo
colégio tivesse a qualificação que tive aqui, seria incrível
– avalia o
jovem que, durante o curso, chegou a trabalhar como garçom em finais de
semana para ajudar em casa.
Agora, Peterson espera pelo diploma para iniciar a busca por emprego
na sua área de formação. Lisandra vai tentar ir além. Pretende fazer as
provas do IFRS e tentar uma vaga em outro curso técnico, agora em
Turismo. Para quem chegou a pensar em desistir das aulas, é um avanço.
– Quero fazer este outro técnico e depois partir para um curso superior. Vou me esforçar muito para isso – projeta ela.
União de forças valeu a pena !
Dividir a sala de aula com a própria mãe certamente não está entre os
maiores desejos dos adolescentes. E a primeira reação de Peterson
quando a mãe ofereceu a oportunidade foi negativa. Mas isso mudou
rapidamente. Ao conversarem, mãe e filho entenderam que seria mais fácil
serem colegas em razão dos trabalhos, das provas e dos materiais
didáticos.
– Cheguei à conclusão de que poderíamos dividir as
coisas e nos ajudar, teria muito mais comodidade para nós. Então, logo
aceitei o convite da mãe – recorda Peterson.
Para Lisandra, a
parte mais complicada nem foi o filho, mas sim toda a turma. Além dela e
de outra colega, a maioria da turma era composta por jovens, como
define a mãe, “com idade para serem meus filhos”.
– Demorei até entender que eles eram meus colegas e não meus filhos. Mas, depois, ficou tudo tranquilo – brinca Lisandra.